Escavações

Encosta do Castelo de Mértola

Encosta do Castelo de Mértola

O Campo Arqueológico de Mértola realiza, todos os anos, durante o Verão, campanhas de escavação na encosta norte do Castelo de Mértola. Nestes trabalhos participam estudantes voluntários de várias universidades nacionais e estrangeiras, bem como jovens mertolenses.

Tal como na Alcáçova, as escavações têm revelado diferentes momentos da ocupação humana neste espaço.

O mais recente corresponde à utilização da área como necrópole durante a Baixa Idade Média e o período moderno. Esta circunstância facilitou o trabalho arqueológico, já que, desde então, não voltaram a ser aqui construídas habitações.

O segundo momento, datado da primeira metade do século XII, está associado à construção de uma zona residencial, continuidade do bairro islâmico da Alcáçova. Nesta área identificou-se também um hammam, atualmente em escavação.

O período mais antigo remete para a Antiguidade Tardia (séculos V–VI), com a continuidade das estruturas do complexo religioso identificado na Alcáçova. Destacam-se o Batistério II, descoberto em 2014, e a Basílica, cujos trabalhos de escavação se iniciaram em 2022.

É possível que existam ainda vestígios de ocupações mais antigas, que permanecem por identificar.

Projeto IACAM – Intervenções Arqueológicas nas Cercas das Alcarias Mesquita – Mértola. Primeira Campanha de trabalhos – 2021 a 2025

Projeto IACAM – Intervenções Arqueológicas nas Cercas das Alcarias Mesquita – Mértola. Primeira Campanha de trabalhos_2021 a 2025

O Projeto IACAM - “Intervenção Arqueológica das Cercas das Alcarias de Mesquita (Mértola, Portugal). Da Hispânia ao al-Andalus: Arabização, islamização e resistência no meio rural” é um projeto coordenado pelo Campo Arqueológico de Mértola e a Universidade de Granada-Espanha.

Até ao momento, junto à Ermida de Nossa Senhora das Neves, foi identificada uma sequência composta por três fases diferentes a nível cronológico. A mais antiga, uma necrópole com sepulturas com ritual cristão, datada do século X, através de análises de Carbono14. Depois, segue-se uma grande reestruturação do espaço na época almóada a partir da construção de um grande edifício habitacional seguindo modelos propriamente urbanos. Na última fase, dá-se com a construção da Ermida dedicada a Santa Maria de Froles, a partir de 1482. Durante os trabalhos arqueológicos foi identificada diante e na lateral da atual Ermida de Nossa Senhora das Neves (designação que terá ocorrido no final do século XVI) diversos enterramentos do século XVI, datados através de C14 e coincidentes com o que mencionam as fontes.

Na zona das Cerca das Alcarias, foi documentado um povoado com casas apartadas, isto é, uma alcaria que tem diversos núcleos habitacionais que se estendem pelo vale e pela zona de encosta. Trata-se de um habitat rural de planta dispersa, ocupado entre os séculos XI-XIV d.C., ou seja, coincidente com a época Almorávida, Almóada e posteriormente já em domínio cristão.

Casa Cor de Rosa – Mértola

Casa Cor de Rosa -Mértola

Entre 2017 e 2020, a Câmara Municipal de Mértola, proprietária da Casa Cor-de-Rosa, promoveu a reabilitação deste edifício, convertendo-o em salão de chá (no primeiro andar e quintal) e hammam (no piso térreo).

Neste contexto, o Campo Arqueológico de Mértola realizou o acompanhamento arqueológico e uma escavação no piso térreo, numa área de cerca de 185 m². Os trabalhos revelaram uma diacronia de ocupações que se estende desde o período romano até à atualidade.

Destaca-se a identificação de estruturas pertencentes a um espaço público romano (forum), associado ao principal acesso desde o porto de Myrtilis.

Da Antiguidade Tardia (século VI) foi registada a presença de várias estruturas e, de particular relevância, uma fossa escavada intencionalmente para ocultar um conjunto de quatro estátuas romanas — três femininas e uma masculina (thoracata) — num contexto de “damnatio memoriae”.

Ao período islâmico correspondem alguns muros, fossas sépticas e pavimentos. Por fim, identificaram-se estruturas de duas unidades habitacionais, fossas, pavimentos e uma calçada pertencente a um antigo arruamento, datáveis da Baixa Idade Média e do período moderno. Estas terão perdurado até à construção da Casa Cor-de-Rosa, na última década do século XIX.

Antigos CTT de Alcoutim

Antigos CTT de Alcoutim

Entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020, o Campo Arqueológico de Mértola realizou trabalhos arqueológicos no edifício dos antigos CTT de Alcoutim, propriedade da Câmara Municipal, que viria a ser demolido para a construção de um prédio de habitação coletiva numa área de cerca de 305 m².

A intervenção decorreu em duas fases: uma primeira, com a abertura de quatro sondagens de diagnóstico (26 m²) antes do início da obra, e uma segunda fase de acompanhamento arqueológico durante os trabalhos de construção. As escavações revelaram uma ocupação contínua deste espaço desde o século XV, período em que já existiam construções habitacionais neste lado da Rua das Portas de Tavira.

Entre os séculos XVI e XVII foram identificadas duas unidades habitacionais com uma organização simples — compartimento dianteiro e divisão em profundidade, com ou sem logradouro. A implantação em declive destas casas obrigou à construção de degraus, poiais e muros de contenção.

A partir do século XVIII, as habitações sofreram várias reformulações, adquirindo, na segunda metade do século XIX, a configuração que acolheria a agência dos antigos CTT.

Uma terceira fase de trabalhos ocorreu entre fevereiro e março de 2022, durante a abertura das valas técnicas do novo edifício, quando foi identificado um troço da muralha seiscentista da vila de Alcoutim, na Rua dos Guarda-Fios.

Muralha do Cerro do Benfica

Muralha do Cerro do Benfica

As sondagens e escavações arqueológicas realizadas na zona do Cerro do Benfica, identificaram uma construção onde se destacam alguns troços de muralha bem como duas torres de planta semicircular, datáveis do século IV-III a. C. A muralha ronda os 5 m de largura e apresenta cerca de 1,5 Km de extensão conservada (até à zona do Convento). As duas torres semicirculares, parcialmente escavadas, têm uma largura de 4 e 6 m respetivamente e, nas áreas onde se procedeu à feitura de cortes transversais, a muralha tinha entre 10 e 15 m de largo. Esta muralha foi edificada com materiais de construção locais, constituídos por uma alvenaria de xisto com ligante de terra ou barro. Na parte interior foram construídos vários muros paralelos, dispostos em socalcos. No exterior das torres semicirculares foi observada a construção de muros radicais. Esta técnica construtiva de muros paralelos conferia à construção maior largura e possivelmente maior altura. As sondagens efetuadas nos torreões semicirculares revelaram a fragilidade da estrutura que, pelo que é dado a observar, foi alvo de várias reconstruções. Estas incidiram especialmente no reforço da mesma, pois o xisto empregue é bastante friável, desfazendo-se com grande facilidade. Para superar esta dificuldade, os construtores levantaram muros paralelos para o reforço dos preexistentes.

Alcáçova do Castelo de Mértola

Foi na Alcáçova do Castelo de Mértola que se iniciaram os trabalhos do Campo Arqueológico de Mértola. Desde 1978 foram postos a descoberto uma densa necrópole da Baixa Idade Média, um intrincado bairro de época islâmica e um impressionante complexo religioso paleocristão que integra um criptopórtico, um baptistério do séc./VI e um interessante conjunto de mosaicos de forte influência bizantina.

Recentemente, esta zona tem sido alvo de um projecto de valorização e conservação, o qual irá permitir visitar todo o espaço a partir de um passadiço sobre - elevado.

Castelo de Mértola

Por motivo das obras de arranjo paisagístico, o Campo Arqueológico de Mértola desenvolveu duas campanhas de escavações no interior do Castelo de Mértola, em 1996 e 2006. Nestes trabalhos foram postos a descoberto vestígios de vários períodos da vida no interior do edifício destacando-se interessantes estruturas e artefactos datados de cerca do ano 1000.

Mesquita Igreja Matriz

A intervenção arqueológica na Mesquita – Igreja Matriz de Mértola enquadra-se nos trabalhos de recuperação do edifício iniciados pelo IPPAR em 2003. As sondagens arqueológicas tiveram como objectivo diagnosticar possíveis problemas estruturais e averiguar a origem da humidade que estava a afectar o estuque original do séc. XII, assim como as causas do abatimento de uma parte do pavimento do Adro da Igreja. Esta intervenção foi também aproveitada para determinar a estratigrafia geral do subsolo do monumento e a existência de estruturas anteriores à mesquita almóada.

Biblioteca Municipal

Em 2003, 2005 e 2006 o Campo Arqueológico de Mértola foi incumbido pela Câmara Municipal de Mértola de realizar escavações arqueológica na área de ampliação da Biblioteca Municipal. Esses trabalhos permitiram descobrir vestígios de um forno cerâmico do início da época moderna, um enterramento da Baixa Idade Média e uma série de contextos habitacionais islâmicos, sobrepostos a níveis que remontam ao período Romano – Republicano e à Idade do Ferro.

Destaca-se uma muralha, possivelmente dos inícios do período romano, assim como o seu torreão, de grande monumentalidade, que se encontra em razoável estado de conservação, tal como uma outra muralha da Idade do Ferro sobre a qual não existem ainda cronologias precisas. Nesta zona da vila, dentro do recinto amuralhado da Idade Média, nunca se tinham encontrado níveis estratigráficos fiáveis de época Romana – Republicana e da Idade do Ferro, o que realça a importância da descoberta destas estruturas na zona de entrada na cidade.

Casa do Laternim

A Casa do Lanternim, actual sede do Parque Natural do Vale do Guadiana, situada em pleno Centro Histórico de Mértola, foi alvo de intervenções arqueológicas realizadas em diversas campanhas (1994, 2002, 2003 e 2004) no âmbito do projecto de recuperação e valorização do edifício.


Para além das intervenções arqueológicas realizadas no interior do edifício também foram desenvolvidos trabalhos de acompanhamento de obra, executados pela equipa do Campo Arqueológico de Mértola. Trata-se de um local perfeitamente delimitado espacialmente, cuja intervenção arqueológica se desenvolveu acompanhando mais uma fase da reorganização do centro histórico, através da requalificação de um edifício importante em termos arquitectónicos e da história local. Esta intervenção proporcionou uma enorme quantidade e diversidade de materiais com um horizonte temporal que abarca desde o século VIII a.C. até ao século XX. O estudo do sítio e dos materiais exumados foi apoiado pela Fundação da Ciência e Tecnologia ao abrigo de um Projecto de Investigação e Desenvolvimento (2005/2007).

Mosteiro

No Monte Mosteiro, a cerca de 25 km da Vila de Mértola, existe uma construção que, pela sua traça arquitectónica, é identificável como pequeno edifício de culto. O eixo principal tem a orientação Este-Oeste comum nos templos cristãos. O monumento é constituído por dois espaços: a capela-mor absidada e o corpo principal, rectangular, sendo ambas, em termos construtivos, estruturas de alvenaria de pedra argamassada e revestida com o mesmo material. Intervenções arqueológicas realizadas nas imediações do edifício puseram a descoberto restos de mosaico do período romano e um conjunto de sepulturas talhadas na rocha. No interior da ermida foram encontrados vários enterramentos de crianças. O edifício foi alvo de um processo de conservação e recuperação, de forma a corrigir as patologias existentes, a recuperar a sua traça original e albergar um pequeno centro de interpretação. Neste processo de escavação e de recuperação participaram os alunos da Escola Profissional ALSUD de Mértola e técnicos do CAM.

Rossio do Carmo

Fora da muralha, junto da via que unia Mértola a Beja, tem vindo a ser estudada uma enorme necrópole de épocas paleocristã e islâmica. Sob o domínio muçulmano, este local manteve a suas funções funerárias. O almocavar, nome de origem árabe para o cemitério, estendia-se desde o Rossio do Carmo, até às muralhas da vila. A necrópole islâmica de Mértola, é um dos principais sítios funerários conhecidos do Gharb al-Andalus. Na zona do Rossio do Carmo, actualmente objecto de um novo projecto de investigação, encontra-se a escavação de uma zona ainda intacta da necrópole islâmica.

Cine Teatro

Trabalhos arqueológicos no interior do Cine – Teatro Marques Duque permitiram aferir que na Antiguidade Tardia (Séculos V-VII), neste local, havia um outro cemitério paleocristão do qual se descobriram mais de 30 sepulturas. É provável que ele fosse apenas um prolongamento do cemitério do Rossio do Carmo ou ali tivesse existido um outro antigo santuário cristão.  No século XVII foi fundada neste local a ermida de Santo António dos Pescadores. Seria um pequeno santuário de uma só nave, com a capela-mor rebaixada e pouco saliente e bem orientada. Esta pequena capela serviria a comunidade mais directamente ligada à pesca e à navegação fluvial. Em 1917 foi destruída e substituída pela actual sala de teatro, que conservou até hoje a sua fachada.

Beira-Rio

As obras particulares de ampliação da Pensão Beira – Rio levaram a que se realizassem escavações na área do quintal da mesma, as quais foram executadas pela equipa do Campo Arqueológico de Mértola. A escavação veio a identificar uma área residencial (arrabalde ou bairro habitacional) de época islâmica (séculos X-XII). A investigação arqueológica permitiu reconhecer um certo planeamento urbano, com ruas bem estruturadas e sistemas de canalização e esgoto. Alguns indícios sugerem que, além da zona habitacional, haveria também actividades produtivas.

Ruas – Eixo Comercial de Mértola - 2008

Em 2008, a remodelação do eixo comercial da vila de Mértola, como já se previa, levou à descoberta de importantes vestígios arqueológicos. Duas Necrópoles, a Necrópole de Incineração, descoberta durante a abertura de uma das valas na rua Alves Redol, nas imediações da Estação de Correios e a Necrópole de Inumação na Rua Dr. Serrão Martins, na qual se pôs a descoberto um importante conjunto de sepulturas associadas a uma igreja dos inícios do cristianismo (Século V-VIII), e que, de certa forma, continuam a necrópole do Cine -Teatro Marques Duque.

Para além destes importantes vestígios, é de destacar o torreão, construído em sólida alvenaria argamassada, sendo o que Duarte D’Armas, na sua visita a Mértola em inícios do século XVI, representou como “atalaia”. As obras continuam a decorrer e ao mesmo tempo os trabalhos arqueológicos em diversos pontos das ruas.